quinta-feira, 21 de junho de 2012

Uma última homenagem


Hoje foi dia de reunião do conselho na Portuguesa e durante o pedido de um minuto de silêncio, resolvi pedir a palavra para prestar uma última homenagem ao amigo Amarelo, falecido no dia 10 de maio. Resolvi atender a um pedido que me foi feito por ele semanas antes de sua morte.

Segue o texto que li na reunião e que incrivelmente foi muito bem recebido pelos colegas...

No dia 10 de maio mais um grito se calou. Um grito de socorro, um pedido por uma Portuguesa mais justa, menos vaidosa, mais ética... Mais profissional.

Profissionalismo... Essa era a palavra mais pronunciada por Eduardo Gil Amarelo, quase uma marca registrada.

Palavra essa tão erroneamente usada nessa nossa casa. Palavra tão judiada por aqui, tão maquiada...

Amarelo como chamávamos, era um apaixonado pela Portuguesa, assim como todos os aqui presentes. É comum ouvir por aí: “Ninguém ama mais esse clube que eu. Igual pode ser... Mais? Nunca!”. Essa frase sem dúvida também valeria para ele ou para qualquer um aqui presente.

Caro Amarelo, onde estiver... Estaremos honrando e clamando por uma Portuguesa melhor e mais profissional.

Semanas antes de sua morte, ele me fez um pedido, que eu inclusive havia negado.

Pediu que eu lesse aqui no Conselho um texto que escrevi sobre a Portuguesa no momento do nosso rebaixamento para a segunda divisão do Paulista.

Resolvi fazê-lo hj... Uma pequena homenagem.

O nome do texto é:
Salvem-me

Estou à beira da morte... Um coma profundo, quase estado terminal...

Enquanto agonizo, alguns homens, ditos grandes, movidos pela soberba se apoderam do meu corpo, da minha alma.

Dizem ser curadores, mas no fundo os conheço... Estão muito longe disso.

Deixam-me sangrar...

Nos tempos de outrora, fui grande, poderoso, me viam de igual para igual.

Hoje, caído, moribundo... Sou mantido vivo apenas pela esperança dos que me amam.

E eles sofrem... Choram minha quase morte, mas...

Deixam-me sangrar...

 Agonizo, enquanto tento o grito como última alternativa, mas a voz não sai.

Permaneço paralisado, num silêncio mórbido, esperando por um socorro que não vem. 

Eles, os que me amam, apenas olham e rezam... Perplexos... Impotentes, diante de um quadro que parece não ter saída.

Se esquecem que meu símbolo mostra o caminho... Algo grandioso... 

Uma cruz de Avis que de nada lembra a morte... Sinal puro de respeito, honra e glória.

Se esquecem disso e deixam-me sangrar...

O momento já passou, sei disso... Há muito devia ter ocorrido, mas ainda é possível.

É preciso acreditar!

O Tempo é agora... Levantem e Lutem...

Libertem-me dos falsos moralistas... Falsos curandeiros... Falsos Homens!

Quero voltar a viver como Grande... Como sempre fui.

Estanquem o sangue que escorre...

Salvem-me!